A VOLTA DO CARBOIDRATO: FOCO NO CONSUMO PODE GARANTIR MAIOR RENDIMENTO NA MALHAÇÃO
Tem
que correr, tem que suar, tem que malhar. E também tem que comer carboidrato
para o treino render. Se o cantor e compositor Marcos Valle fosse
nutricionista especializado em esporte, ele certamente teria acrescentado a
recomendação nos versos deste clássico impagável (“Estrelar”) da música dos
anos 80. Dois novos estudos, um brasileiro e outro internacional, reforçam essa
orientação antiga de médicos gabaritados do setor esportivo. Em junho passado,
a revista científica Nature publicou pesquisa
identificando uma bactéria chamada Veillonella no intestino de maratonistas.
Isolada e injetada em ratos, fez com que eles corressem 13% mais rápido do que
sem o aditivo.
Já estudo ainda inédito do Laboratório
de Nutrição e Metabolismo da Escola de Educação Física e Esporte da USP demonstrou
que o treinamento físico, mesmo em indivíduos sedentários, três vezes por
semana, promoveu a proliferação de bactérias intestinais responsáveis por
vários benefícios à saúde, um deles, o aumento da resistência física. Detalhe
importante: todas essas bactérias se alimentam de carboidratos.
“Temos
documentado que a ingestão de carboidratos, que favorece as bactérias intestinais,
também garante uma concentração adequada de glicogênio na musculatura e no
fígado, o que permite que o indivíduo tenha maior capacidade de tolerar esforço”,
afirma Antonio Herbert Lancha Júnior, professor
titular de nutrição da Escola de Educação Física e Esporte da USP e coordenador
do laboratório e da pesquisa, com publicação prevista para os próximos meses.
Qualidade do carboidrato é importante
Segundo o endocrinologista Filippo
Pedrinola, doutor na área e médico do hospital
Albert Einstein, a alimentação equilibrada ao longo do dia
proporciona, especialmente por meio de carboidratos de baixo índice glicêmico,
o aumento da reserva de glicogênio, que nada mais é do que o precursor da
glicose, base do funcionamento do nosso organismo todo, essencial na hora de
fazer exercício.
“O músculo precisa de proteína (um adulto
deve ingerir diariamente entre 0,8 e 1,6 grama por quilo de peso corporal), mas
ela só será assimilada se houver carboidrato. Por isso, acredito na eficácia da
dieta low carb, mas costumo manter o índice do consumo de carboidratos em torno
de 40%”, explica, lembrando que numa dieta normal a recomendação fica entre
50% e 60%.
Junto
com o estoque de glicogênio, a alimentação pré-treino é um ponto-chave que
garante o pique para malhar. “O organismo precisa de glicose no momento do
exercício. Se ela não estiver disponível, o corpo usará a proteína do músculo,
e não a gordura, já que o processo de transformação da proteína em glicose é
mais rápido. Assim, se a pessoa se exercitar em jejum, por exemplo, diminuirá a
queima de gordura, poderá perder músculo e ainda ficar imunodeprimida”, diz Lísia Kiehl,
doutora em nutrição esportiva pela Faculdade de
Medicina da USP, especialista em nutrição clínica pelo Hospital das
Clínicas, em São Paulo. Ela explica ainda que são as proteínas
do músculo que alimentam o sistema imunológico, por isso o risco da
imunodepressão.
O que levar em consideração na hora do consumo
Para considerar recomendações mais
específicas, os três especialistas lembram que não há outra maneira senão
consultar um nutricionista, já que as variantes individuais são muitas:
modalidade, intensidade e frequência do exercício, aliadas ao metabolismo e
condições de saúde de cada um. Posto isso, se o exercício não for muito
intenso, Pedrinola sugere consumir um carboidrato integral ou uma fruta, de
preferência com casca, cerca de duas horas antes de entrar na academia. Isso
vai garantir a liberação da glicose aos poucos, graças ao alto teor de fibras
do alimento.
Se o café da manhã ou o lanche for feito
menos de duas horas antes do treino ou o exercício for mais pesado, Kiehl (cujo
trabalho é focado em atletas) afirma que é necessário incluir um carboidrato de
rápida absorção. Aí entra, segundo ela, basicamente, o açúcar (geleia ou o café
adoçado, por exemplo) ou o mel, numa porção equivalente a uma colher de sopa (a
frutose também leva mais tempo para ser transformada em glicose, então não
funcionaria nesse caso).
Entre as sugestões de combinações da
nutricionista estão a banana (fruta de baixo índice glicêmico) com aveia (fonte
de fibras) e mel (carboidrato de rápida absorção). Outra dica pré-treino é
comer beterraba crua (pode ser acrescentada no suco de laranja, por exemplo). “O
nitrato presente nessa raiz é vasodilatador, o que faz com que o sangue chegue
mais rápido até o músculo, gerando mais energia”, diz. Ela recomenda fazer
testes com pequenas quantidades dos alimentos para entender como o corpo reage.
Power menu
Dicas da nutricionista esportista Lísia
Kiehl para o seu treino render mais.
Pré-treino
“Jamais faça exercício em jejum. Isso invalida qualquer treino”, defende Kiehl.
Cerca de duas horas antes de ir para a academia, dê preferência a carboidratos
com menos fibras, como tapioca com banana, canela e uma colher de chia ou
aveia, que têm pouca fibra e índice glicêmico baixo. Se o treino for pesado e o
intervalo entre ele e a refeição for menor do que duas horas, vale incluir um
açúcar, carboidrato de absorção rápida, no equivalente a uma colher de sopa,
como mel, geleia de fruta ou uma colher de açúcar no café.
Se o treino for no fim de tarde, antes do jantar, vá de açaí com mel, granola e banana numa cumbuca pequena. Outras opções: uma fatia de pão de forma com pouca fibra, pasta de amendoim e mel, ou flocos de milho com iogurte e mel. Como o corpo tem reserva de alimento e não partiu de um jejum, aqui o lanchinho pode ser feito uma hora antes de malhar.
Pós-treino
É a hora de comer duas porções de carboidrato para uma de proteína para
exercícios moderados ou quatro de carboidrato para uma de proteína, no caso dos
mais intensos. É o açúcar de rápida absorção presente no carboidrato que vai
recuperar o organismo e promover a queima de gordura, não de músculo. Entram
aqui o leite desnatado ou semidesnatado (proteína) com achocolatado
(carboidrato de rápida absorção, no caso, o açúcar) + melancia picada
(carboidrato) ou duas fatias de torrada (carboidrato) com cottage (proteína) e
geleia (açúcar).
Durante o dia
É preciso fazer todas as refeições corretamente, com a ingestão de carboidratos
integrais e de baixo índice glicêmico ao longo do dia. Para quem quer
emagrecer, Kiehl sugere não cortar, mas diminuir as porções, uma vez que o
corpo leva de 12 a 24 horas para se recuperar do exercício e vai precisar de
mais carboidrato. O consumo de proteína também é essencial para a saúde do
músculo (e a nossa saúde geral). Segundo Antonio Lancha, ele não deve ser
concentrado num único momento, mas sim fracionado durante as refeições,
respeitando a recomendação de 0,8 g a 1,6 grama por quilo de peso corporal.
Fonte: Maria Claire
Fonte: Maria Claire
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